sexta-feira, março 31, 2006

E que seja infinito enquanto dure

“Hey querida, gosto muito de você, de olhar gravuras, e de conversar com você, HEY QUERIDA, VOCÊ É DEMAIS!!!” Bruna foi acordada de seu transe hipnótico, vagando nas conversas com Roberto no sábado, “hey você, querida Superhist!”, ela cantou junto com o gaúcho psicodélico. Tentou procurar por Adriano e o viu perto palco, ao lado dela, guardou a máquina - agora não irei mais trabalhar, só irei curtir esse show magnífico” - olhou para Adriano com um sorriso confidente, que foi prontamente recebido da parte dele. Andou diretamente para o lado dele, “traduzir um som do Bob Dylan pra você”, desceu o palco do teatro, e cumprimentou-o alegremente, um calafrio na espinha fez com que ela se estremecesse toda diante daquele rapaz que tinha conhecido há dois dias atrás, juntando com o show do Júpiter Maçã. Agora era aonde ela queria mais estar, do lado de um cara gentil e legal, vendo um show maravilhoso. Começou a cantar todas as músicas, porque sabia tudo de cor, juntamente com Adriano, que provavelmente sabia as letras também, “hey querida, domingo vamos passear, lá no parque da redenção vamos viajar”, eles cantavam em uníssono e se entreolhavam satisfeitos e alegres, como dois amigos que se conheciam há bastante tempo, e eles gritam de prazer, “HEY QUERIDA, VOCÊ É DEMAIS, HEY VOCÊ QUERIDA SUPERHIST!!!!!"

Naquele momento, aquela situação, tudo estava perfeitamente bem, tudo estava transbordando felicidade. Risos, lágrimas de emoção, pulos, os pulmões cheios de ar, passando pelas cordas vocais, “Walter Victor, tomador de panca”. Bruna não queria que isso nunca terminasse, que fosse eterno, aquilo fazia um bem tão danado pra ela, que por um momento a fazia esquecer dos problemas cotidianos e mundanos. “O nome dela, Miss Lexotan 6 mg, garota”, quando Bruna ouviu esse começo da estrofe sentiu um aperto no coração, um nó obstruindo a garganta, algumas lágrimas querendo sair. Desde que “Miss Lexotan 6mg” como uma música pessoal, que dizia muito sobre a sua pessoa, e então a adotou. A canção que ela mais queria ouvir no show era “Miss Lexotan 6mg”, e Bruna sabia que não conteria a emoção e desabaria a chorar. “Ela é tensa só porque, seu amor não vive em São Paulo, nem Porto Alegre, nem lugar nenhum” - que vergonha, porque vou chorar logo agora? - pensou-a com seus bottons, nem cantava, o choro incontido não deixava Bruna fazer isso, ela não tinha nenhum lenço, então foi esfregando os olhos molhados com as mãos e fungava como nunca, de repente um braço foi estendido e não mão um lenço escrito na borda “Adriano”, ela se virou e viu o sorriso branco daquele cara de óculos, todo gentil e tímido. Bruna agradeceu, limpou os olhos, assoou o nariz, foi devolver, mas ouviu uma voz baixa que se confundia com o som – precisa não, fica com ele até o final do show – Bruna sorriu e ficou com lenço na mão, para qualquer caso. “Ela teme intensamente que jamais conheça um carinha, que vai comê-la estando apaixonado” – essa sou eu, sou eu definitivamente, mas talvez isso possa mudar – pensou Bruna contemplando o rosto de Adriano – ele não precisa me beijar hoje, eu posso esperar – vagueando sua mente, esquecendo-se completamente de Roberto – só estando do lado dele já me sinto bem, não precisa ter o clichê de beijar ao som de uma música maravilhosa ao vivo – o coração dela estava apertando de novo, mas não era ruim, era bom sentir isso, parecia que ela ia explodir de tanta felicidade.

The End (?!?)

Wolf Parade - "This Heart's On Fire"

terça-feira, março 28, 2006

The decision

Domingo, último dia de Bananada, show do Júpiter Maçã. Bruna está atarefada tirando fotos e quase não está aproveitando o cantor gaúcho. Além disso, mil pensamentos rondam sua cabeça nesses momentos, até agora ela se lembra da última e fatídica conversa com Roberto, no sábado:

- Olha, queria conversar com você.
- Ué, o que foi?
- Vamos para um canto mais sossegado, aqui tem muita gente.
- Sim, mas o que foi?

Foram para um lugar mais afastado do Martim.

- Olha – disse Bruna, com um semblante decisivo – não vai dar mais pra gente ficarmos juntos.
- Mas porque? O que foi que eu fiz? O que tem de errado com a gente?
- De errado? Tudo! Primeiro a forma como esse relacionamento começou, segundo como esse relacionamento entre a gente está tomando forma, terceiro que nem relacionamento é, parece mais um divertimento entre a gente, sem compromissos. Estou chateada.
- Mas paixão – um atônito Roberto recebia aquelas cacetadas – eu gosto de você, se é pra namorar, a gente namora.
- Paixão?? Amor?? A única vez que você me chamou de “amor” foi ontem quando estava conversando com o Adriano, que modo sutil e inteligente de demarcar território hein??
- Adriano...você está me dando um “pé na bunda” por causa dele! Você já ficou ou vai ficar com ele?
- Uma coisa não tem nada a ver com outra. O que eu pude ver nele eu não vejo em você. E olha quem fala, e esse tanto de menininhas que fica no seu pé, te paparicando e que ficam contigo, e você nem sabe ao menos o nome de uma, aliás, o meu você sabe né?!?
- Você é a mais especial entre todas...
- Especial?? Você me trata como se eu fosse a tal? Pelo que percebo não, e vamos parar com essa baboseira mentirosa que é ridículo! Tchau, foi um prazer ter te conhecido, mas agora tenho que trabalhar.
- Espera – Roberto a puxou pelo braço – se eu não tive tempo de me explicar, pelo menos me dê um tempo de te dar um último beijo...
- Não Roberto, acabou, nem uma despedida, eu cometi um erro e não quero continuar com isso...
- Mas só um...um beijo de despedida.
- Me solta, que estou atrasada, tenho que fotografar.
- Tá bom, mas saiba que não te esquecerei.
- Você não me fará entrar nesse joguinho seu, adeus.
- Adeus...vai pro seu Adriano, aquele mané, “loser”
- Ele pode ser “loser”, mas é muito mais do que você.
- Ele não é nada, não toca em banda.
- Por isso mesmo, ele é humilde, ao contrário de você.

Um braço solto, um coração partido, mais uma decepção, agora é arrumar lentes, objetivas, certificar as baterias e entrar no teatro para mais uma sessão de fotos ao vivo de uma banda qualquer.

Thelonious Monk - "Round Midnight"

segunda-feira, março 27, 2006

Maybe all we need is a shot in the arm

Um constrangimento indefectível se apoderou dos dois, foi Bruna que cortou o silêncio, tirando da bolsa uma carteira de cigarros:

- Você fuma?
- Fumo.
- Aceita um.
- Aceito, por favor.

Cigarros nas respectivas bocas, um isqueiro aceso, duas tragadas profundas, e duas baforadas soltas quase ao mesmo instante, relaxamento e o nervosismo foi-se embora, quase que completamente, pelo menos não estava visível nos semblantes de Adriano e Bruna. Por um momento, ela se lembrou dos índios norte-americanos e os colonos do Oeste se sentando ao redor de uma fogueira e fumando o cachimbo da paz, que ela viu em tantos filmes e desenhos animados:

- O que está achando do festival?
- Estou gostando, bandas boas, gente legal, gosto desse ambiente.
- Eu também...Virá amanhã e depois?
- Sim, sempre bato o ponto todo ano – sorriu timidamente, e Bruna teve vontade de abraçá-lo junto ao seu colo – e você.
- Também, vim a trabalho, mas estou me divertindo muito aqui. Quantos anos?
- Vinte e cinco, e você?
- Dezenove – disse ela, dando mais uma tragada e soltando majestosamente a fumaça para causar boa impressão – que andas você veio ver?
- Ah, tem muitas bandas legais aqui pra conhecer, mas vim ver o Mordida, que acabou agora mesmo, Pata de Elefante, Detetives, Júpiter Maçã, e outros....Ah tem tanto grupo.
- Hum, que legal, eu estou começando a me inteirar no universo underground goiano e nacional, mas estou gostando muito das bandas que estou ouvindo e vendo, já ouviu Vanguart?
- Já sim, gosto bastante do som folk deles, muito influenciado por Bob Dylan.
- É mesmo, eu me interessei por causa do Dylan, sou apaixonada por aquele cara.

A conversa estava durando muito e causando deleites em Lúcio, que estava a poucos metros, observando o primeiro encontro daqueles dois – quem sabe, essa maré de azar não acabe – pensou ele, afinal, fazia tempo que o amigo estava sozinho, e a timidez não fazia ele avançar muitos passos à frente, tornando-se apenas colega ou amigo das garotas que conhecia. As duas pessoas a frente de Lúcio estavam conversando animadamente, se conhecendo e compartilhando gostos compatíveis:

- Pelo visto você gosta de Interpol – apontou Bruna para a camiseta branca de Adriano.
- Sim, sim, adoro essa banda, eles podem parecer um pouco Joy Division, mas esse novo disco deles me fez a cabeça, estou ouvindo sem parar, você curte?
- Sim, adoro, é uma das poucas bandas desse “novo rock” que me mexe.
- Concordo.
Nesse momento, duas mãos tapam os olhos de Bruna:
- Adivinha?
- hum...Arthur?
- Não.
- Roberto?
- Acertou! Oi amor, tudo bem?
- Oi, tudo bem – uma confusa Bruna abraça e dá um selinho no companheiro – você não disse que não viria hoje?
- Pois é, eu resolvi de última hora, tentei te ligar, mas você não atendeu.
- Nossa meu bem, nem vi – pegou o celular da bolsa e viu uma chamada não atendida – desculpa, você me pegou de surpresa.
- Eu vou ali pegar uma cerveja pra nós, ok?
- Okay – nem terminou, um apaixonado Roberto lascou um beijo cinematográfico nela, demarcando seu território – hum...ahm...tá bom...Me espera lá no bar, que já estou indo.
- Certo.

Adriano via aquela cena, atônito, sua mente se perguntando várias coisas, enfim ele percebeu a realidade, ou a sua realidade. “Maybe all I need is a shot in the arm”, como aquela canção não tão famosa de um não tão famoso Wilco, “I wanna be sedated right now”, pensou seguidamente, se lembrando dos Ramones. No fim, todas as mulheres do meio rock são iguais, é só você tocar numa banda relativamente famosa que caem em cima - melhor largar o saxofone e pegar uma guitarra, talvez dê certo, ainda não entendo o porquê dela conversar comigo - Adriano foi quase que acordado do estado de torpor em que se encontrava:

- Então, Adriano, eu vou indo, foi um prazer te conhecer.
- O prazer foi todo meu – tentando sorrir e gaguejando – a gente se vê por aí.
- Pode ter certeza, temos que ter tempo pra conversar sobre música, tchau!
- Tchau!

Bruna foi para o lado do bar, um Adriano cabisbaixo foi ao encontro de Lúcio para ver o show seguinte, do Hang the Superstars, talvez um som mais frenético tire essa sensação de frustração. Bruna não conseguia acreditar nas coisas que tinha acontecido, de conhecer um garoto tão fofo que acendeu sua chama maternal, e de chegar um chato para atrapalhar o clímax. Porque as coisas são assim? Roberto não era seu namorado, foi apenas um acidente de percurso causado por bebedeira, e como ela estava sozinha há um tempo, deixou rolar. Agora tem que ir aos shows que ele faz com sua banda, que, aliás, Bruna detesta, agüentar a chatice e o jeito “eu me acho”. Já estavam juntos a um mês, e não estava agüentando mais, eles não tinham nada a ver, e era irritante o tanto de tietes fãs da banda do “namorado”, mais exatamente do namorado. Ela quase tinha certeza que ele a achava mais uma “groupiezinha” do cenário alternativo da cidade, pelo jeito que a trata. Mas isso tem que mudar. Enquanto refletia sobre sua situação com Roberto e a imagem estampada de Adriano, Bruna decidiu que era hora de trabalhar novamente, pelo menos se esquecia dos problemas.

The Magic Numbers - "Try"

sábado, março 25, 2006

A conversa (continuação....)

- Olá – diz uma garota numa voz fina e tremida.
- Boa noite – o primeiro rapaz responde.
- Boa noite – o segundo a sua esquerda diz, quase rouco - tudo bem?
- Tudo bem, olha, gostaria de tirar uma foto de vocês? É para o site em que eu trabalho – disse numa voz tremida – pode ser?
- Claro, claro – disse o primeiro, percebendo que ela olhava fixamente para o amigo.

Ela desajeitadamente arruma uma posição melhor para fotografar os dois garotos, afasta um pouco deles para focá-los, sua visão está meio embaçada e a visor da câmera digital treme, “é isso que dá abordar um cara desconhecido o qual está afim”. Apertou o botão uma vez, o flash espocou, olhou no visor, tudo tremido, repetiu mais uma vez o procedimento, sua voz interior gritando “QUE TERROR, EU QUERO UM TRIPÉ”, mas dessa vez a foto saiu até mais ou menos. Lúcio, o primeiro, percebeu que ela estava usando o velho artifício de cantada pelo método da câmera digital, deu uma olhada pra ela e percebeu a fitinha que ela usava no braço esquerdo, tem a cor diferente das dele e de Adriano. Pensou consigo mesmo que ela podia estar com alguma banda como acompanhante, ou pode mesmo fotógrafa de um site.

- Pronto, demorou um pouco, mas consegui focar e fotografá-los, sabe o que é, é que essa câmera é nova e ainda estou apanhando dela – sorriu um pouco pra disfarçar bem a desculpa.
- Não, tudo bem, tem problema não – disse Lúcio, o outro apenas sorriu – você é daqui mesmo?
- Sou daqui, e vocês?
- Também somos – percebendo os olhos dela virados pra Adriano – qual seu nome?
- Bruna, e o de vocês?
- Eu me chamo Lúcio, prazer.
- Adriano – até que enfim oviu-se a voz dele durante toda a conversa – prazer.
- O prazer é meu.

Um silêncio de alguns segundos, um olhar vidrado na camiseta branca do Interpol, outro percebendo tudo a sua volta, e outro congelado de tanta timidez.

- Olha, tenho que ir ali rapidinho – disse Lúcio, de sopetão – vou pegar cerveja no bar.
- Eu vou com você – disse um Adriano em choque.
- Então eu me vou – disse Bruna, não sabendo o que dizer, ela queria estar longe dali.
- Não, precisa não, pode deixar que eu vou sozinho e pego uma pra você – deu um tapinha nos ombros de Adriano – foi um prazer conhecê-la Bruna – e piscou pra ela, como se dizendo “pronto, agora é com você”.

quinta-feira, março 23, 2006

Esta é mais uma das minhas estórias.....

Eles já se conheciam a um bom tempo, seis meses para falar a verdade. O primeiro encontro deles foi no famoso Festival Bananada, evento anual em Goiânia Rock City. Foi atração a primeira vista, pelo menos da parte de Bruna, Adriano era, e ainda é, muito “avoado”, se bem que ele tem melhorado bastante. No primeiro dia de festival, no Martim Cererê, uma banda do Sul tocava, Bruna estava costumeiramente andando de um lado pra outro tirando foto, ela trabalhava como fotógrafa para um site de jornalismo cultural da cidade, quando resolveu parar pra prestar atenção no show, quando reparou em um rapaz de calça jeans, tênis ADIDAS verde, meio surrado, e uma camiseta do Interpol, cantando todas as músicas a plenos pulmões, e o mais interessante é que a banda era totalmente desconhecida. Foram duas coisas – Interpol e banda sulista meio mod, meio Jovem Guarda – que chamaram a atenção para Adriano, o nosso rapaz em questão, embora ele não estivesse prestando atenção em mais nada, apenas em uma de suas bandas preferidas, o Mordida. A garota ficou fascinada por ele, não tanto pela beleza do menino (?!), mas pelas coisas que se mostravam para ela – Interpol e a banda sulista, que ela achou ótima, por sinal – e se esqueceu de fazer o trabalho dela ali, naquele momento, tirar fotos. Segundo ela me relatou, ficou pensando durante alguns minutos o que faria para abordar aquela pessoa deveras interessante. Pensou em várias maneiras esdrúxulas e impraticáveis de se fazer, simplesmente porque ela era uma garota, não tinha experiência nesse assunto, era tímida, e o mais importante de tudo, estava trabalhando, e como ela era metódica, não misturava diversão e trabalho, só um pouquinho, aliás, estava fotografando e ouvindo boa música e conhecendo pessoas, mas se ela se pegasse conversando com o garoto e esquecesse de tirar as fotos do festival, o “chefe” dela a mataria. Durante esse meio espaço de tempo, em que ela pensava tendo ao fundo “Judy” do Mordida ao vivo, ela teve uma brilhante (segundo ela) idéia. Para não perder tempo, já que outra banda iria tocar no outro teatro a qualquer instante, ela saiu nos fundos do teatro, passou pelos camarins na carreira, a procura do fotógrafo que cobria a parte social do evento, ou seja, tirando fotos da galera na área aberta do espaço cultural. Foi perguntando pra todo mundo pra onde tinha ido o Marcos, onde o Marcos estava....contando o tempo e impaciente para arquitetar o seu plano.
Finalmente encontrou-o no bar Karuhá, executando seu serviço social, ou seja, bebendo “socialmente” e fazendo o “social”. Chegou na “rodinha” em que ele estava toda suada e esbaforida, e nem cumprimentou as pessoas que ali estava, só foi recuperando o fôlego e perguntando se eles poderiam trocar de lugar. “Mas porquê?!?” perguntou todo cheio de dúvidas um desconfiado Marcos (mineiro né?), “é porque....é porque...é porque (ela não estava pensando numa desculpa, já que o sangue no cérebro foi para as pernas)....é porque o trabalho lá dentro tem um ritmo maior e estou precisando descansar, me cobre lá, por favor?!?”, ele pensou um pouco, olhando diretamente para Bruna para ver alguma coisa diferente, mas só via olhos esbugalhados e num brilho intenso, e uma cara de esperançosa como nunca antes, “ou ela quer encontrar com alguém ou quer fumar algum baseado?”, pensou antes de confirmar com a cabeça com um sorriso sereno, “tá bom, tá bom, a gente precisa mesmo revezar”, um sorriso cobriu o rosto de Bruna, que deu um abraço e um tapinha no peito dele como costumava fazer, “obrigado, se der certo eu te devo uma”, “precisa não”, um gole na cerveja, “você já é minha amiga e companheira de trabalho”. Com tudo esquematizado, ela só precisava encontrar o garoto Interpol, tirar uma foto e puxar conversa com ele, “moleza”, pensou com seus botões.........

Rilo Kiley - "Science vs. Romance"

terça-feira, março 21, 2006

A última noite - Chapter 3 - The Last

“Gostaria de dizer que essa é a última música que a gente irá tocar, a última MESMO.”

Aplausos, assobios e palavras soltas. André começa a entoar “Hey Joe” - a primeira música que ele “tirou” no violão - lágrimas começaram a cair do rosto dele. Olhou para a platéia perto do palco e viu os olhinhos de uma menina brilhando, era a fascinação de Paula, admirando um cara incrível, simplesmente incrível.

Solos de guitarra, agitação, microfonias infinitas, improvisação da “cozinha”, bateria e baixo em harmonia. Isso foi o final triunfante da carreira dos Avengers, triste, mas emocionante, sentimental, mas furioso em sua essência, tudo para não mostrar o real sentimento dos integrantes naquela última noite, a dor da perda. Eles saem do palco e vão direto para um cubículo do club, os camarins, ou bastidores, localizado no fundo do palco. O DJ mais vagabundo, maldito e legal da cidade começa seu set de discotecagem, com Gouge Away dos Pixies. Lá dentro, as quatro pessoas que irão se separar, conversam animadamente, tentando de todas as maneiras disfarçar a tristeza daquele último encontro. Juliana resolve subir ao palco para desmontar suas coisas, seguido de André. Agacham-se e fazem o último ritual de cada apresentação do grupo, desplugar guitarras, guardar os cabos, colocar os pedais nas respectivas caixas, armazenar gentilmente as guitarras no case, e dar adeus para o palco. Eles ouvem um “psiu” bem baixo, Juliana olha para trás e vê Paula, uma menina tipicamente indie, branquinha, cabelos pretos curtos, saia, blusinha do “Belle & Sebastian” e tênis all-star, e rapidamente entende que é para André, ele olha e gesticula que irá sair só depois de colocar as coisas no camarim.


Weezer nas pick-ups, Paula e André conversam no balcão, enquanto Juliana olha enciumada para o amigo e para a groupie que quer atacá-lo. Alexandre chega perto dela:

- Ju, deixa-o aproveitar a última noite dele aqui.
- Mas eu queria que essas últimas horas fossem comigo
- Eu sei, ele sabe, você sabe, mas agora é tarde demais, entende.
- Entendo, mas eu preciso desse último suspiro, uma esperança perdida.
- Não se preocupe com isso agora, vou pegar duas cervejas para a gente.
- Okay, amigo!

O olhar dela acompanha os casalzinho mais indie do club até o banheiro, até sumirem nas entranhas mais sacanas do lugar. O coração dela aperta e começa a chorar nos ombros de Alexandre.

“Mais um groupie, a última dessa minha vida musical”, pensa André enquanto beija ardentemente Paula no cubículo da privada. Ao mesmo tempo alegre e triste, com raiva e dó daquela menina de 17 anos se portando como uma puta, só para depois contar às coleguinhas o que fez com um músico famoso na cidade. No entanto ele não tinha nojo, só sentia o desejo pulsando em suas veias e a vontade de satisfazer aquele corpinho juvenil, afinal era a última noite.

Queens Of Stone Age é a trilha sonora perfeita para os acontecimentos no banheiro, sonoridade e nervosismo à flor da pele. Quarenta minutos após eles entrarem no banheiro, os dois saem completamente satisfeitos e cheios de prazer, agora cada um segue seu caminho e nunca mais se cruzarão novamente. Ele chega em Juliana, os dois com um semblante triste e convida-a para sentar com ele no balcão. Duas, quatro, seis cervejas e conversas infinitas sobre várias coisas, porque chega uma hora que finalmente tem que se acertar as coisas antes de ir embora para sempre, e eles deviam fazer isso.

Cinco horas da manhã, poucos gatos pingados e bêbados enchendo o saco do DJ para colocar Ramones, mas ele insiste no set indie de final de noite, Crown Of Love, dos badalados Árcade Fire. Juliana e André abraçados e chorando a cruel despedida que pensavam que nunca iria acontecer, um beijo na boca inesperado sela a fidelidade de duas pessoas de sexo opostos, que já confundiram algumas vezes a diferença entre amor, paixão e amizade. Aqueles três anos de convivência, desde aquele dia em que ela olhou para ele cantando em algum festival de colégio e se encantou com o dom da música. Ou o dia em que André viu Juliana pela primeira vez, linda, numa boate-rock da cidade, e conversou e percebeu que a garota era um poço cultural. A amizade durará por muito mais tempo, mas longe um do outro, nunca irão mais se encontrarem num bar sujo pra combinar uma saída, ou num estúdio para tocar qualquer besteira, ou no parque da cidade, sentar e contemplar o pôr-do-sol, as coisas simples e complexas da vida.

Eles caminham para a saída do club, sete horas da manhã, o sol já a pino, e algumas pessoas caminhando nas ruas e calçadas do centro. Dão-se um abraço longo, uma despedida forte e sentimental. “Você irá na rodoviária?”, “Claro que irei”. Um último beijo, a última caminhada sozinho para a estação de metrô com o bag da guitarra nas costas. A última manhã, o último nascer do sol nessa cidade linda e triste. A última lágrima.

Bob Dylan - "Don't Think Twice It's All Right"

sexta-feira, março 17, 2006

Apelidos

Eu nunca quis dizer quais os apelidos que me deram ao longo desses 27 anos, aliás, já devo ter dito alguns mas não todos. Só tive a felicidade de ser chamado de Rafa a pouco tempo, ou seja, mais ou menos dois anos atrás. Se é pra felicidade geral do Carlos, lá vai a lista de tudo o que fui chamado Alguns tenho trauma, outros acho nonsense, outros engraçado, outros fofo, outros carinhosos, outros maldosos até dizer chega. Não vou explicar os apelidos, talvez em um ou outro post, ou quando me perguntarem pessoalmente ou através de e-mail.

*(respirando fundo)

então, A Lista dos Meus Apelidos:

-Rafaelzinho;
-Véio Zuza;
-Cabeção;
-Cabeça (variação do apelido acima);
-Mestre;
-Peixe;
-Peixinho;
-Fish;
-Pelézinho;
-Rafael cara de pastel, ou papel, ou dono de bordel....;
-Rafildes;
-Rafazildo;
-Chicão;
-El (acho que uma das minhas irmãs me chamavam assim quando pequeno);
-Rafito;
-Fito (corruptela de Rafito);
-De Paula;
-Didi (corruptela de De Paula);
-Vô do Rock;
-Vô do Róque;
-Vô;

Até hoje, tem muita gente que me conhece como Cabeça, porque era um apelido meu do ginásio; Mestre, da minha época de colegial; e ainda me chamam de Peixe da época que fiz Veterinária. O meu apelido atual é , simplesmente. E eu acabo me perguntando Porque diabos minha família ainda me chama de Rafael??. Cada época diferente da minha vida eu recebo um nome, e o mais engraçado é que comumente as pessoas esquecem meu nome verdadeiro.
então vou colocar na minha testa um RAFAEL bem enorme pra ninguém esquecer.

HUNF!!!

Mas no final das contas acabei me acostumando a isso, daqui a vinte anos ou mais (se eu viver até lá), serei conhecido por outro nome e esquecerão o atual, não o da identidade.

Sonic Youth - "Becuz"

ainda estou tentando desvendar os mistérios do nome Rafael na vida das mulheres, muito esforço e sem resultados por enquanto

quinta-feira, março 16, 2006

A última noite - Chapter 2

André fez um leve sinal de cabeça para todos os integrantes, a fim de começar. Todos preparados enfim, as cordas limpas e nítidas de uma Gibson SG começaram a vibrar incessantemente, várias notas denotando o começo de uma música, ”Everlong”, dos Foo Fighters. O barulho frenético do chimbau de Alexandre iniciou, os pés dele batendo forte no bumbo, a Fender Stratocaster de Juliana acompanhava o ritmo, distorcida, uma palhetada apenas e som fluía sujo e repetidamente. As pessoas na frente do palco, a maioria meninas, batiam os pés e balançavam as cabeças de acordo com o ritmo hipnótico. Um pé na distorção e o vocal agudo de André começa a pronunciar a canção. Enquanto ele canta, olha atentamente cada pessoa, cada guri, cada garota em frente a ele, se perguntando o que eles estariam fazendo aqui, porque eles gostavam de uma simples banda de “covers”, o que faz ele ser adorado por aquela gente. Ele não sabe de nada, apenas canta, com uma paixão incrível, ele toca apenas pra ele, pode ser egoísta, mas ele faz aquilo que gosta, se as pessoas como aquelas defronte ao palco gostam, isso é um outro departamento que ele tenta decifrar. André acredita que o que aconteceu com os The Avengers foi pura sorte, porque ele já estava nessa de bandas há um tempo, desde o colegial, e nunca tinham dado tão certo como esse de agora, quatro pessoas que tinham a mesma paixão pela música e que aprenderam a se amar. Hoje, com 25 anos e três anos com essa formação, tudo irá se acabar nessa noite. Mas não dá pra adiar os acontecimentos, ele sabe que tem que fazer a escolha certa, ir pra outra cidade, refazer sua vida lá, ou continuar com a fantasia idílica que é a vida agora, nesse momento. Não não, é preciso mudar, é preciso viver, é preciso conviver com outras pessoas, ter outras experiências, tudo foi bonito enquanto durou, mas o sonho acabou - Juliana, o sonho acabou, e temos que superar sempre barreiras e nunca ficar acomodado – foi essa a discussão que ele teve com sua amiga de longos três anos, que ele conheceu em um desses shows underground que rolavam na “city”, um encontro por acaso, uma conversa distraída, que se tornou uma amizade forte e duradoura, uma paixão, e depois amor, não esse amor que colocam na tv, nas músicas, no cinema, um amor entre duas pessoas de sexo diferente, e que teve a felicidade de separar as coisas.

E tudo se acabará nessa noite. Quatro músicas se passaram, todos estavam curtindo os últimos suspiros do grupo, todos menos André, ainda absorto em pensamentos, que tocava sua SG mecanicamente, tocava os pedais misturando os sons, fazia seus “noises” e barulhos (influência de Sonic Youth), fazia tudo como um robô pré-programado. Sua cabeça estava a mil, pensando diferentes coisas ao mesmo tempo, duvidoso e decidido, triste e alegre, saudosista e ansioso, apegado ao velho e doido para ver e sentir o novo. Morar em um lugar diferente, com pessoas diferentes, com rotas diferentes, ruas, espaços, avenidas, edifícios e casas diferentes. Um trabalho que ele gosta, ganhando um dinheiro consideravelmente bom, mas pra tudo isso ele tem que se desvencilhar dos apegos, ele está decidido. Enquanto pensa tudo isso, toca “Let Down”, clássico radioheadano, um dedilhado nítido e belo, e uma lágrima escorre do seu rosto.


(continua....)

quarta-feira, março 15, 2006

Ainda hei de descobrir o efeito de um Rafael na vida de uma mulher.

Seria um nome mágico??
Seria a bondade contida no Rafael??

Vou fazer entrevistas, testes e escreverei um artigo científico sobre esse assunto...aguardem!!!

terça-feira, março 14, 2006

A Última Noite - chapter 1

Nove horas da noite, finalmente chegou o momento. André dá uma longa tragada no Camel, suspira fundo e sobe o palco do pequeno clube localizado no centro da cidade. Ele está diferente, ele sente que está diferente, uma aura estranha se forma no palco – nem acredito que está será a última vez – pensa consigo mesmo. Ele retira sua querida “Jaqueline” do case, e coloca-a na posição de guerra, pluga os cabos nos seus devidos lugares, vai até o microfone, ajusta o pedestal, e testa o som do local. Gentilmente ele vai dedilhando as cordas, enquanto os outros integrantes da sua banda testam os instrumentos, mas para André eles simplesmente não existem, ou são fantasmas acompanhando-o a cada compasso da música. André nem percebe as garotas que estão debruçadas nos retornos, ele sequer presta atenção nas pessoas ao fundo to mando suas cervejas e impregnando o lugar abafado com baforadas. Ele está absorto em seus pensamentos, está estranho, está tenso, mas ninguém percebe no seu semblante uma única ruga de preocupação em sua testa. Só sua guitarrista de apoio percebe que André está perturbado com a sinistra idéia de terminar tudo, Juliana sabe que está será a última noite em que eles, The Avengers, se reunirão, ela está triste, mas foi decisão dele. Ela embarcou nessa empreitada com ele, e agora tudo está se dissipando, e nada pode deter aquilo, nem ela.

- "Boa noite, somos os The Avengers, e vamos tocar algumas covers para animar vocês, espero que gostem e se divirtam."

(continua.....)

segunda-feira, março 13, 2006

E assim vou seguindo

E assim eu vou seguindo
sozinho vou tocando a vida
escrevendo versos sujos
enquanto saboreio um cigarro fétido
e bebo uma cerveja amarga com gosto de lágrima

E assim vou seguindo a vida
sendo amigo de todas as mulheres
ouvindo-as pacientemente
enquanto fico calado absorto
em meus pensamentos e sentimentos
um namorado nunca
quiçá um amante

E assim vou seguindo
contra a corrente forte
torta e cambaleante linha torta
dedilhando meu violão
riffando minha guitarra
e sujando os ouvidos alheios
com alta distorção

E assim vou seguindo
tentando entender Bukowski
tentando decifrar Radiohead
absorvendo cada gota do suor do Cartola e Paulinho da Viola e Chico Buarque e Noel Rosa e Milton Nascimento Thelonious Monk e John Coltrane e Charlie Parker e Miles Davis e Davie Brubeck e Chet Baker
engolindo e digerindo cada palavra de Drummond
me indentificando sóbriamente com cineastas solitários
com artistas solitários e subversivos
e todas as películas subversivas
incompreendidas
fora do padrão pré-estabelecido
e todas as músicas sujas, mas cheia de sentimento
dos becos e guetos longíquos do mainstream
me emocionando comigo mesmo
e desbravando os caminhos sinuosos da solidão

E vou seguindo sozinho
buscando a felicidade de maneira incauta
confusa e insana
Ainda resta uma esperança
mas irei buscá-la ao meu modo
torto, sinuoso, cambaleante e gauche

quarta-feira, março 08, 2006

Convenção de Genebra!!! Direitos Humanos!!! Tortura Nunca Mais!!!!

O que é pior do que ficar meses e meses sem "comer" (eu sei, essa palavrinha é feia) ninguém?!? O que é pior do que você estar na época de carnaval(bebida + sexo = carnaval), e não arranjar ninguém pra pelo menos beijar o pescoço?!? Eu sei a resposta:

Pior do que isso tudo é ficar hospedado na casa de uma amiga que tem namorado, e os dois ficarem fazendo coisas no quarto ao lado. Tudo bem "fazer coisas" com a porta fechada e o som ligado, eu não importo, nem reclamo disso, porque eu sou hóspede e a dona da casa tem o direito de usar como bem entender o seu recinto. Mas por favor, não me torturem com gemidos e barulhos "nheco-nheco" da cama, please!!!! É somente o que eu peço, porque só me faz lembrar que todo mundo faz, menos eu. Foi uma tortura que me desconcetrou na leitura, e me fez ter pensamentos levianos e horrorosos. Só faltou ter uma chibata e eu me auto-mutilasse para espantar os pensamentos pecaminosos que eu tava tendo. Eu devia era chamar os Direitos Humanos e a Convenção de Genebra pra me proteger desses monstros sexuais do quarto ao lado.

Mas o melhor foi na manhã seguinte, eu falar pra minha amiga que eu ouvi tudo, tudinho. A vergonha dela me reconfortou.

EU SOU TÃO MAU!!!!!!!!!!

segunda-feira, março 06, 2006

Hoje me aconteceu um fato estranho. Um conhecido, de conversas esporádicas nos lugares por aí me deixou deveras estupefato. Ccumprimento-o, sento na mesa e começo a conversar com ele e um amigo do próprio. Em um dado momento, ele chega e fala pra mim, do nada: "Você é bonito sabia?!? boa pinta...dá um sorriso?"....envergonhado mostro minha arcada dentária, e ele continua: "uma amiga minha me disse que 60% da beleza da pessoa está nos dentes, seu sorriso é muito bonito". Não sabia pra onde olhar, onde eu enfiaria minha cara nos próximos minutos, muito menos sabia se eu ficava lisonjeada ou com muito medo, ou se ria, ou se pegava o meu carro e dava o fora dali. "Eu não sou gay, não tenha nada contra homossexuais" tentava consertar o embaraço da situação, mas já estava constrangido, "tudo bem" dizia eu,também não sou gay e não tenho nada contra.....obrigado por dizer isso". Pra piorar, a seguinte frase proferida "eu te vejo muito por aí, eu pensava que você fosse gay", "todos acham", falei, todos pensam, mas eu não sou e nem me preocupo em dizer, deixe que pensem, eu pensava assim porque você andava com um pessoal que é; "tenho alguns amigos que são", finalizei.

Depois disso, muitas conversas e risadas regadas a Bohemia. Eu esqueci completamente o desconforto geral por essa conversa esquisita, porque entendi que o cara nem tava afim de mim, só me falou sinceramente. Depois fiquei pensando, "é a prmeira vez em muito tempo que alguém chega em mim e fala que eu sou bonito, sem eu forçar nada (tipo eu me fazer de coitado-mor, pra eu ouvir "você é lindo")".

Primeira conclusão: A vida não é tão ruim quanto eu acho. Elogio é sempre bem-vindo, mesmo que venha de um cara bêbado e super-drogado;

Segunda conclusão: Eu sei que tem gente que acha que sou homossexual porque frequento tal tipo de lugar, ou não sou comumente visto com uma garota à tiracolo, ou até mesmo enxergam trejeitos afeminados em mim. FODAM-SE, nunca liguei para o que os outros acham de mim, nunca ligarei, e não será agora que vou ligar. Deixe a fofoca rolar, falem mal, mas falem de mim, pelo menos fico famoso.

mais uma nota mental vaga

Nunca exceda seus limites. Saiba quando parar, será melhor para todos

Nota Mental Vaga

O melhor é fazer, não falar, aprenda isso de uma vez por todas

Porque será que eu me apaixono por toda garota que me sorri e fala "oi" de um modo gentil??

sábado, março 04, 2006

A humanidade ainda tem salvação

É verdade que eu acho a humanidade feia
mas os humanos não são tão horríveis assim
aprecio a beleza circunspecta em cada face e corpo
e mesmo aquelas pessoas que não se encaixam
no padrão "bonito" da sociedade
eu percebo a beleza escondida

Adoro me olhar no espelho
ver o meu cabelo, a minha barba
a minha boca, o meu nariz, o meu sorriso
gosto de ver os pelos dispostos rentes
do meu braço, da minha barriga e das minhas pernas
as pintas e marcas do meu corpo

Me apaixono pelos seus olhos brilhantes
pelo seu sorriso maroto
pela sua bochecha que dá vontade de apertar
seu cabelo, sua pele, seus poros
Eu ficaria vinte e quatro horas te vendo
eu ficaria contente só te vendo

Pintas, cicatrizes e marcas nos contam como é a pessoa
Se eu ficar observando sua face e seu corpo
por horas a fio e te tocar incessantemente
sem emitir uma palavra sequer
não se preocupes
estou apreciando a sua condição de ser humano
imperfeito, mas ao mesmo tempo perfeito e belo

São nos pequenos detalhes
nas coisas simples
que eu transcendo
e percebo
a magnificência
do que é ser

Feio, bonito
perfeição, imperfeição
são apenas conceitos sociais
eu faço meu próprio conceito
o meu conceito individual

quinta-feira, março 02, 2006

a humanidade é feia

Certo dia, Deus estava dando uma olhada no seu Paraíso, nas coisas que criou, nos animais e em Adão e Eva, que caminhavam nus nos arredores. O Criador já tinha visto cada casal de animnais fornicando, assim como Adão e Eva, assim com já tinha visto o casal de humanos várias vezes correndo nos campos verdejantes e floridos do Paraíso. Então ele percebeu como os humanos são horríveis, todas aquelas pelancas e pêlos horríveis por todo o corpo, e como era nojento o modo como o homem e a mulher copulavam, toda aquela banha se movimentando de modo gelatinoso. Então O Senhor teve horror a si mesmo por dar vida a criaturas imperfeitas e expulsou Eva e Adão do Paraíso, para não ter que ver novamente pela eternidade as partes pudendas balançantes de Adão e os seios caídos e relaxados de Eva. E disse O Criador: "só voltem aqui quando encobrirem totalmente seus corpos.

Excerto retirado de um manuscrito antigo encontrado em uma das cavernas do Mar Morto

Ás vezes acho sofrível o pensamento de que todos os humanos façam sexo. Não é horrível pensar que você veio através do sexo praticado entre seu pai e sua mãe?!?
E que seu irmão ou sua irmã fazem "aquilo", seus tios e tias, avôs e avós, amigos, professor, professora, o médico que te atende fornicam?!?

Esse pensamento me apavora a mente, e não é porque sou conservador, sou muito liberal, a questão é que só de imaginar pessoas copulando já me dá um calafrio na espinha e faço aquela cara de nojo.

E já viram o tanto que os seres humanos são horríveis? Estrias, celulite, papada, peito caído, rugas, olheiras, barriga proeminente, pêlos em lugares incovenientes, aquela coisa pendente, que balança sem parar. Junte isso tudo ao sexo feito, o tanto que piora a visão. É por isso que o sexo é feito em lugar reservado e não público, é pra preservar a terceira pessoa da "visão do inferno".

Chego à conclusão de que Deus não expulsou Adão e Eva do Paraíso por comerem a fruta do bem e do mau, e consequentemente terem vergonha de estarem nus. Foi o próprio Criador que ficou com vergonha das criaturas feias e imperfeitas que criou e as colocou no limbo para que não tivesse que olhar novamente para seus cropos nus e horríveis.