Não sou mais uma garotinha
Estava no quarto, só de cueca samba-canção. Tinha acabado de tomar um banho refrescante ao som de Lambchop. Aquele “som de negão” feito por caipiras de Nashville balançava-o, “soul music” de alta qualidade contida no álbum “Nixon”. Deitou-se na cama e começou a ler o livro de quadrinhos do Robert Crumb & Harvey Pekar, o cotidiano de Pekar retratado em “American Splendor” era interessante, pois Fábio se identificava totalmente com os personagens.
Estava tão absorto na conjunção Lambchop-American Splendor, que nem percebeu a chegada da sua vizinha de prédio. Camila o surpreendeu com seu “olá professor” meigo e gentil disfarçado de “femme fatale”. Maurício deu um pulo, afinal não é todo dia que uma vizinha ou aluna o vê na intimidade do lar de cuecas, ainda mais samba-canção. “Tô atrapalhando, professor?” “Não, não...espere só um pouquinho até eu colocar uma roupa tá?” “Ta bom...vou sentar no sofá da sala. Afobado, tirou a cueca de seda, vestiu uma normal, colocou a melhor bermuda do armário, e uma camiseta do Bob Dylan – que por sinal Camila adorava – e foi conversar com sua aluna-vizinha de baixo. Ele ficava se perguntando o que diabos essa menina veio fazer no apê dele, sábado quatro horas da tarde, já que não era o horário costumeiro das aulas particulares.
Camila estava sentada no sofá vendo o DVD “No Direction Home”, documentário sobre Dylan, ela o olhou com um sorrisinho e disse “meu Deus, nós somos telepatas”, Maurício riu olhando pra camiseta e se sentou de frente pra ela na poltrona. “Ué, porque você tá aqui? Tá com alguma dúvida em matemática? Porque você não tocou a campainha?”, “calma professor, uma coisa de cada vez”....dava pra perceber que Maurício estava atônito com a chegada da menina, e visivelmente eufórico. “Relaxa Maurício, eu bati a porta algumas vezes, toquei a campainha, mas ninguém atendeu, e a porta estava destrancada, e como eu sou xereta – deu um riso largo, mostrando seus dentes alvos – vim saber se você estava aqui, e estava...de cuecas...”, “você me assustou sabia? Invadiu propriedade particular e a minha privacidade, viu?”, “Ah Maurício, pára com isso né? Não tem nada demais uma garota ver um cara com cueca samba-canção...ainda mais você”, “como assim ainda mais eu?!?”, “pô, já temos intimidade suficiente pra não sentirmos constrangidos...aliás, você quer ver minha calcinha?”, ela se levantou e foi começando a abrir o zíper da calça, “Camila, pára com isso, você quer me matar do coração? E se alguém vê isso aqui vai pensar o quê? Me diz logo o que você veio fazer aqui?”. Com cara de sapeca, ela subiu o zíper e se sentou novamente, “quem vai ver isso aqui? Só você...e ninguém vai passar aqui, minha mãe tá trabalhando, o Marcos – colega de apartamento de Maurício – tá de viagem..”, ela se levantou novamente e foi ao encontro de Maurício, “há quanto tempo a gente se conhece hein?”, o coração dele começou a disparar, “há uns quatro anos mais ou menos”, “na época eu tinha uns doze, treze anos né? Foi a época que você começou a me dar aulas particulares de Matemática né?”, ela se sentou do lado dele, olhando firmemente, ele começava a suar, “fo-o-oi sim, eu dava aulas no mesmo colégio que você estudava, e ainda estuda, e coincidências do destino, morávamos no mesmo prédio”, “então.....agora estou com 17 anos, e você com?”, “25...o que você quer dizer com isso??”, “eu?? Nada..só estou apenas dizendo”, a mão de Camila repousou sobre a coxa dele, Maurício deu um pulo, “não!! Não!! Não podemos fazer isso”, “isso o que, professor?”, “eu conheço sua família, conheço sua mãe, e conheço você quando ainda era uma garotinha, você não tem o direito de me seduzir garota!”, “porque não? Não somos homem e mulher? Vai dizer que nunca reparou que eu cresci?” Maurício por um instante olha aquele mulherão de 1,75 na sua frente e quase desmaia, “si-i-im...já reparei sim, mas é contra as normas e os bons costumes”, Camila dá uma risada, “logo você, Maurício? Que não aceita as regras? Não estou te entendendo” ela vai se aproximando lentamente, “e sua mãe? O que diria?”, “Minha mãe?? Ela te idolatra, ela até acharia bom eu namorar contigo, porque você cuidaria de mim”, “eu cuido de você, mas como irmã”, “tenho certeza que não”.
Seus rostos estão a um palmo de distância, um beijo é preparado por ambas as partes, Dylan toca “Don’t Think Twice” no DVD,sussurros nos ouvidos, “você sempre foi e sempre será o meu professor preferido”, ele engole seco, “você me ensinou tudo a respeito de Matemática e cultura, e livros e música, e me fez apaixonar em Dylan, agora me ensinará sobre outra coisa”, ele está tonto, “mas e os garotos da sua idade?” “eles são infantis, eu quero um homem pra mim” beija o pescoço dele, fazendo arrepiar da nuca ao dedão do pé, “você é uma femme fatale, já disse isso?” “milhares de vezes...”, estavam totalmente abraçados, envoltos, hipnotizados, “você é uma garota muito má...”, “não sou mais uma garota”.
Bob Dylan - "Visions Of Johanna"
2 Comments:
Tu bem aproveitou para fazer uma propaganda do Lambchop, né? hahahahahaha....
O Bob Dylan semeou o pecado..uhuhuhuhu! \o
=D
ai ai... olha o sonho de todo professor que tem uma aluna bonitinha.
=*
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