quinta-feira, março 16, 2006

A última noite - Chapter 2

André fez um leve sinal de cabeça para todos os integrantes, a fim de começar. Todos preparados enfim, as cordas limpas e nítidas de uma Gibson SG começaram a vibrar incessantemente, várias notas denotando o começo de uma música, ”Everlong”, dos Foo Fighters. O barulho frenético do chimbau de Alexandre iniciou, os pés dele batendo forte no bumbo, a Fender Stratocaster de Juliana acompanhava o ritmo, distorcida, uma palhetada apenas e som fluía sujo e repetidamente. As pessoas na frente do palco, a maioria meninas, batiam os pés e balançavam as cabeças de acordo com o ritmo hipnótico. Um pé na distorção e o vocal agudo de André começa a pronunciar a canção. Enquanto ele canta, olha atentamente cada pessoa, cada guri, cada garota em frente a ele, se perguntando o que eles estariam fazendo aqui, porque eles gostavam de uma simples banda de “covers”, o que faz ele ser adorado por aquela gente. Ele não sabe de nada, apenas canta, com uma paixão incrível, ele toca apenas pra ele, pode ser egoísta, mas ele faz aquilo que gosta, se as pessoas como aquelas defronte ao palco gostam, isso é um outro departamento que ele tenta decifrar. André acredita que o que aconteceu com os The Avengers foi pura sorte, porque ele já estava nessa de bandas há um tempo, desde o colegial, e nunca tinham dado tão certo como esse de agora, quatro pessoas que tinham a mesma paixão pela música e que aprenderam a se amar. Hoje, com 25 anos e três anos com essa formação, tudo irá se acabar nessa noite. Mas não dá pra adiar os acontecimentos, ele sabe que tem que fazer a escolha certa, ir pra outra cidade, refazer sua vida lá, ou continuar com a fantasia idílica que é a vida agora, nesse momento. Não não, é preciso mudar, é preciso viver, é preciso conviver com outras pessoas, ter outras experiências, tudo foi bonito enquanto durou, mas o sonho acabou - Juliana, o sonho acabou, e temos que superar sempre barreiras e nunca ficar acomodado – foi essa a discussão que ele teve com sua amiga de longos três anos, que ele conheceu em um desses shows underground que rolavam na “city”, um encontro por acaso, uma conversa distraída, que se tornou uma amizade forte e duradoura, uma paixão, e depois amor, não esse amor que colocam na tv, nas músicas, no cinema, um amor entre duas pessoas de sexo diferente, e que teve a felicidade de separar as coisas.

E tudo se acabará nessa noite. Quatro músicas se passaram, todos estavam curtindo os últimos suspiros do grupo, todos menos André, ainda absorto em pensamentos, que tocava sua SG mecanicamente, tocava os pedais misturando os sons, fazia seus “noises” e barulhos (influência de Sonic Youth), fazia tudo como um robô pré-programado. Sua cabeça estava a mil, pensando diferentes coisas ao mesmo tempo, duvidoso e decidido, triste e alegre, saudosista e ansioso, apegado ao velho e doido para ver e sentir o novo. Morar em um lugar diferente, com pessoas diferentes, com rotas diferentes, ruas, espaços, avenidas, edifícios e casas diferentes. Um trabalho que ele gosta, ganhando um dinheiro consideravelmente bom, mas pra tudo isso ele tem que se desvencilhar dos apegos, ele está decidido. Enquanto pensa tudo isso, toca “Let Down”, clássico radioheadano, um dedilhado nítido e belo, e uma lágrima escorre do seu rosto.


(continua....)

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Let Down...

caralho.. é de desmontar..

tu adora deixar a gente curioso dividindo em partes né?

gosto das descrições.

sex. mar. 17, 10:31:00 PM BRT  

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