segunda-feira, agosto 07, 2006

What's The Secret?!?

E foi que num dia desses, um cara chegou no Adriano e perguntou:
-Você é gay??
Adriano olhou torto e se afastou um pouco do rapaz, que já estava bêbado, e educadamente falou:
-Olha, não sou, essa noite não terá nada!
-Não por causa disso não, é que desde que eu cheguei na boate, eu percebi que você é rodeado de mulheres, parece até que você conhece todas as garotas da cidade. Eu comecei a contar nos dedos as vezes que você cumprimentava uma garota e eu perdi a conta...
-Deve ser porque você bebeu demais...
-Ha ha ha ha, deve ser mesmo....mas vem cá, só entre nós...qual o segredo??
-Não tenho segredo nenhum meu caro....
-Ah, mentira, você tem cara de "comedor"...sua pica é de ouro??
-Se eu tivesse um membro de ouro, eu venderia, porque a situação tá preta e preciso de dinheiro.....
-Ha ha ha ha....."comédia" você viu? Tenho certeza que você já pegou pelo menos uma mulher que voc~e cumprimentou calorosamente, com direito a abraço e beijinho. Ou senão todas!!
-Olha....bem que eu queria....mas das amigas que eu tenho, só uma ou duas, e olha lá.
-Mas me conta, qual o segredo de conhecer tanta mulher bonita e legal?
-Olha, não tenho carro do ano, moro com meus pais, não tenho emprego fixo, sou um "pé-rapado", mas tenho coisas que outros homens não têm.
-O que seria??
-Eu sou o tipo do homem que fica amigo, nunca amante ou namorado, e isso é uma tortura às vezes.
-Eu queria ser você...sério, VOCÊ É O CARA!!!
-pfff, vamos beber uma ali e conversar sobre música?
-Vamos...

E os dois saem abraçados, dois "losers" numa noite suja. Um que quer tudo e não consegue, outro que tem tudo....mas mesmo assim, não consegue.

Crosby, Stills, Nash & Young - "On The Way Home"

sábado, agosto 05, 2006

Fingir na hora de rir?

Ele era um cara pacato, bem-humorado e sempre tratava as pessoas bem, com sua cordialidade cavalheiresca. Nunca “enchia o saco” das pessoas com seus problemas, paranóias e depressões, ele sempre se desabafava com seu analista, simplesmente porque analistas são pagos pra ouvir problemas. Além dele, somente seus confidentes eram os livros, os discos, e as mulheres sem nome que apareciam em fotos extravagantes e vídeos pouco ortodoxos para os costumes “pseudo-liberais”, mas isso não contava à ninguém. Todos falavam – ele é um cara legal – e as mulheres (poucas) o desejavam – ele é muito inteligente – mas isso ele próprio sabia que eram falácias, iguala profusão demagógica dos políticos. Ele aprendeu com os tombos a não confiar nas pessoas ao seu redor, ou se confiar, sempre ter “tato”, um pé atrás antes de se levar pelas palavras ditas ao léu. Depois de várias decepções, ele se tornou frio por dentro, quente por fora, como diz aquela música do Wilco – “how to fight loneliness, smile all the time” combater a sua solidão justamente sorrindo, será que esta atitude é a correta? Não sei, sinceramente, mas ele se tornou o tipo de cara que todos acham que é seguro, inabalável, feliz e “cool”, mas que se confrontar um pouco mais se desmorona por completo, como as torres gêmeas de Manhattan, porque na carapuça de fingido se esconde um larápio, um falso, um completo escroto sentimental paranóico. E sim, o cara não era adepto de confrontos e desafios da alma.

Ele nunca teve namoradas, só amantes e pouquíssimas, pois abominava a relação de afeto por entender que elas não mereciam um crápula que ele se tornaria após meses de convivência, e isso não era verdade, que isso era paranóia – quem disse isso foi o analista – de uma pessoa que quis chamar a atenção pra si mesmo e fracassou. Sim, sim sim sim, ele era um fracassado, um “loser” que colocava a máscara de vencedor e enganava a todos com sua atuação digna de ator canastrão de filme B, afinal a vida é um teatro, e todos temos que representar um personagem maniqueísta, assim como numa novela da Globo em que o vilão e o mocinho serão sempre vilão e mocinho, entende? Mas o que ele era, vilão ou mocinho? Isso fica a cargo de vocês leitores. A verdade é que ele se tornou assim por raiva, remorso ou um sentimento maldoso qualquer, de ver que ele não tinha certos atributos que outros, de fingir, de chamar a atenção. Ele sempre foi verdadeiro e ninguém nunca dava bola para o que ele sentia e via, enquanto que outros num estalo conseguem serem falsos, e todos sabem que são falsos e sempre dão crédito, nunca repressão, e mimam, ao invés de aplicar um castigo. Revolta, simplesmente. Então a melhor coisa que ele tinha que fazer era fingir. Primeiro ato da lei do fingimento: “Fingir na hora de rir”.


Belchior - "Paralelas"