Maybe all we need is a shot in the arm
Um constrangimento indefectível se apoderou dos dois, foi Bruna que cortou o silêncio, tirando da bolsa uma carteira de cigarros:
- Você fuma?
- Fumo.
- Aceita um.
- Aceito, por favor.
Cigarros nas respectivas bocas, um isqueiro aceso, duas tragadas profundas, e duas baforadas soltas quase ao mesmo instante, relaxamento e o nervosismo foi-se embora, quase que completamente, pelo menos não estava visível nos semblantes de Adriano e Bruna. Por um momento, ela se lembrou dos índios norte-americanos e os colonos do Oeste se sentando ao redor de uma fogueira e fumando o cachimbo da paz, que ela viu em tantos filmes e desenhos animados:
- O que está achando do festival?
- Estou gostando, bandas boas, gente legal, gosto desse ambiente.
- Eu também...Virá amanhã e depois?
- Sim, sempre bato o ponto todo ano – sorriu timidamente, e Bruna teve vontade de abraçá-lo junto ao seu colo – e você.
- Também, vim a trabalho, mas estou me divertindo muito aqui. Quantos anos?
- Vinte e cinco, e você?
- Dezenove – disse ela, dando mais uma tragada e soltando majestosamente a fumaça para causar boa impressão – que andas você veio ver?
- Ah, tem muitas bandas legais aqui pra conhecer, mas vim ver o Mordida, que acabou agora mesmo, Pata de Elefante, Detetives, Júpiter Maçã, e outros....Ah tem tanto grupo.
- Hum, que legal, eu estou começando a me inteirar no universo underground goiano e nacional, mas estou gostando muito das bandas que estou ouvindo e vendo, já ouviu Vanguart?
- Já sim, gosto bastante do som folk deles, muito influenciado por Bob Dylan.
- É mesmo, eu me interessei por causa do Dylan, sou apaixonada por aquele cara.
A conversa estava durando muito e causando deleites em Lúcio, que estava a poucos metros, observando o primeiro encontro daqueles dois – quem sabe, essa maré de azar não acabe – pensou ele, afinal, fazia tempo que o amigo estava sozinho, e a timidez não fazia ele avançar muitos passos à frente, tornando-se apenas colega ou amigo das garotas que conhecia. As duas pessoas a frente de Lúcio estavam conversando animadamente, se conhecendo e compartilhando gostos compatíveis:
- Pelo visto você gosta de Interpol – apontou Bruna para a camiseta branca de Adriano.
- Sim, sim, adoro essa banda, eles podem parecer um pouco Joy Division, mas esse novo disco deles me fez a cabeça, estou ouvindo sem parar, você curte?
- Sim, adoro, é uma das poucas bandas desse “novo rock” que me mexe.
- Concordo.
Nesse momento, duas mãos tapam os olhos de Bruna:
- Adivinha?
- hum...Arthur?
- Não.
- Roberto?
- Acertou! Oi amor, tudo bem?
- Oi, tudo bem – uma confusa Bruna abraça e dá um selinho no companheiro – você não disse que não viria hoje?
- Pois é, eu resolvi de última hora, tentei te ligar, mas você não atendeu.
- Nossa meu bem, nem vi – pegou o celular da bolsa e viu uma chamada não atendida – desculpa, você me pegou de surpresa.
- Eu vou ali pegar uma cerveja pra nós, ok?
- Okay – nem terminou, um apaixonado Roberto lascou um beijo cinematográfico nela, demarcando seu território – hum...ahm...tá bom...Me espera lá no bar, que já estou indo.
- Certo.
Adriano via aquela cena, atônito, sua mente se perguntando várias coisas, enfim ele percebeu a realidade, ou a sua realidade. “Maybe all I need is a shot in the arm”, como aquela canção não tão famosa de um não tão famoso Wilco, “I wanna be sedated right now”, pensou seguidamente, se lembrando dos Ramones. No fim, todas as mulheres do meio rock são iguais, é só você tocar numa banda relativamente famosa que caem em cima - melhor largar o saxofone e pegar uma guitarra, talvez dê certo, ainda não entendo o porquê dela conversar comigo - Adriano foi quase que acordado do estado de torpor em que se encontrava:
- Então, Adriano, eu vou indo, foi um prazer te conhecer.
- O prazer foi todo meu – tentando sorrir e gaguejando – a gente se vê por aí.
- Pode ter certeza, temos que ter tempo pra conversar sobre música, tchau!
- Tchau!
Bruna foi para o lado do bar, um Adriano cabisbaixo foi ao encontro de Lúcio para ver o show seguinte, do Hang the Superstars, talvez um som mais frenético tire essa sensação de frustração. Bruna não conseguia acreditar nas coisas que tinha acontecido, de conhecer um garoto tão fofo que acendeu sua chama maternal, e de chegar um chato para atrapalhar o clímax. Porque as coisas são assim? Roberto não era seu namorado, foi apenas um acidente de percurso causado por bebedeira, e como ela estava sozinha há um tempo, deixou rolar. Agora tem que ir aos shows que ele faz com sua banda, que, aliás, Bruna detesta, agüentar a chatice e o jeito “eu me acho”. Já estavam juntos a um mês, e não estava agüentando mais, eles não tinham nada a ver, e era irritante o tanto de tietes fãs da banda do “namorado”, mais exatamente do namorado. Ela quase tinha certeza que ele a achava mais uma “groupiezinha” do cenário alternativo da cidade, pelo jeito que a trata. Mas isso tem que mudar. Enquanto refletia sobre sua situação com Roberto e a imagem estampada de Adriano, Bruna decidiu que era hora de trabalhar novamente, pelo menos se esquecia dos problemas.
The Magic Numbers - "Try"
4 Comments:
aiiiiiiiiin eu socava esse Roberto e corria atras do Adriano =~~ aheiuhe
Tá enrolada a guria, hein? Bom, vô, cuidado para não perder o foco do personagem central, que é a bruna.. ;)
Mas fora isso quero saber como vai ser no show do jupiter..
E qt ao comentário da lara, eu tenho lá minhas dúvidas se ela ia mesmo atrás do adriano viu? Sacaneei. hahauahuahua
é. eu tb eiaejoiej mto menos socaria o outro lá.. mas enfim, na teoria eu keria fazer isso aí msm ehiueheuih
aí eu continuo duvidando. e mais ainda...hahahuahuhahuaa.
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