quarta-feira, maio 31, 2006

Conversa entre namorados

- Você não sai desse computador né?!?
- É o meu vício...você sabe...
- Eu devo saber sim...essas suas “amigas” te mandando mensagens fofas e bonitinhas pelo orkut enchem o teu ego!
- Pôxa, meu bem, você está com ciúme de mensagens escritas na Internet?
- Não, tô com ciúmes do que elas representam pra você e suas amigas!!
- Ah! Pára com isso, vai! Você sabe quem são minhas amigas e como elas são e nada tem a ver com nada!
- Aham...sei...
- É verdade, você sabe que só tenho olhos pra ti!
- Hum...pára com esse papo de “cafetã” pro meu lado!
- Você não tem amigas que te tratam carinhosamente?!?
- Então?
- Então que estou cuidando do que é meu! Não quero ninguém dando em cima do meu macho!
- Que possessividade, você me prometeu que não faria mais isso...esses chiliques sem razão!
- Bom...algumas dessas garotas são suas amigas...mas outras...”professorzinho” pra cá, “Armandinho” pra lá...
- Você esqueceu que sou professor também...nunca “peguei”, nem “pegarei” aluna minha......
- Será que elas não sabem que o professor querido delas é gay e tem namorado não?!?
- Primeiro não sou gay, sou bissexual!
- Ah...agora vai começar o falatório de que é o macho da relação, que é ativo..blá blá blá...
- ....
- É, não adianta me olhar com essa cara não, baby! Você vai ver, um dia que você estiver conversando com aquelas alunas “sedentas”, vou te abraçar por trás, te beijar no rosto, como eu sempre faço, na frente delas, pra elas verem que esse bofe tem dono!!

The Cigarettes - ”Lightning Bolt

terça-feira, maio 30, 2006

Dia 12 - terceira e última parte

O que você sente quando toca uma música que gosta? O que passa na sua cabeça quando toca uma música que “foi feita para você”? O que você acha de tocar, seja num simples violão, seja numa pick-up, uma canção que não é sua? E se você tocar essa mesma canção para outras pessoas, você se acha um usurpador, um intrometido? Eu prefiro tocar músicas de outras pessoas, do que composições próprias, porque minhas músicas são idiotas, por mais que eu me esforce. Eu terminei minha última banda porque não gostava do que escrevia e cantava, e agora sou um reles professor de segundo grau (ensino médio...que seja) que brinca de discotecar músicas dos outros, e que ganha fazendo isso. É...sou um canalha mesmo.

A festa até que não está vazia, mas também não está cheia, digamos que esteja agradável. A minha carteira de Camel está quase acabando, e acabo de tomar a terceira long-neck na noite, porque não dá pra engolir a seco a cena e a conversa que presenciei com Joana e sua “namorada” horas atrás. Ainda bem que música me deixa relaxado, apenas relaxado, porque minha cabeça tem mil pensamentos e tenta processar o que meu olho consegue enxergar naquela sala escura, e isso me deixa revoltado e incomodado. O que me incomoda mais é que tem uma garota ao meu lado, fazendo danças lascívias com as amigas dela, e de vez em quando olha pro meu rumo dizendo “toca mais uma pra mim...só pra mim”. Não sei se fico alegre, triste, com raiva...sei lá, porque eu sei o jogo dessas gurias, atiçam os pobres homens mortais, nos fazem de gato e sapato e pra terminar a diversão ignoram como se fôssemos fantasmas ou zumbis, sedentos de paixão (ou tesão). Isso às divertem. Ela tem um profundo decote, eu só queria deitar meu rosto naquele colo abismal e dormir pra sempre. Eu não mereço.

Hoje eu não to nem aí se as pessoas apaixonadas prestam atenção ou gostam das músicas nos alto-falantes. Não to nem aí se reclamam, ou se pedem pra mim tocar “aquela canção”, eu fiz essa seleção somente pra mim. Estou na minha sala de estar apreciando as dores cortantes de vários artistas, e deixei alguns intrusos adentrarem e dançarem na minha frente, e de olhos fechados, nem percebo...só quero ficar em paz.

“Love Burns” no meu headphone (não é fone-de-ouvido) e na pista. Black Rebel Motorcycle Club sempre arrepiou meu coração, e eles não são mera cópia de Jesus & Mary Chain, eles sabem usar bem as influências que têm. Os compositores são sarcásticos, travestem e deturpam o sentido das músicas, uma mensagem subliminar feita de acordes de guitarra, eles escondem numa música alegre e dançante todas as mazelas, e as pessoas que ouvem nem percebem. Eles riem por dentro e eu também...magnífico.

A garota ainda dança “para mim”. Eu já estou vendo até a cena: Primeiro vou arrumar minhas coisas, colocar tudo na minha mochila, depois desço do púlpito do DJ, olhando fixamente pra ela, cruzo a pista de dança, pego mais uma long-neck, abro a garrafa, acendo um cigarro, dou um golão na cerveja e um trago bem forte no Camel. Daí vou-me ao encontro dela, começo a dançar perto e cochicho no seu ouvido...toda a lenga-lenga de “Oi, qual é o seu nome” e “tá gostando da festa”, ela me elogia, joga charme. a gente conversa, vamos para um cantinho pro momento crucial de ganhar um beijo ou um “fora”.

É...eu reclamo, mas no final tudo acaba da mesma maneira. É como se fosse um ciclo vicioso que não conseguimos nos livrar. Tentar esquecer um coração partido com outra. Não é justo, mas nada nessa vida é justo. É momentâneo, instantâneo, rápido, mas é o que necessito agora. Dar um pontapé no passado e recomeçar do zero. Se Joana fez isso, e da maneira mais incomum, porque eu não? Ela está tentando me esquecer com outra, vou tentar esquecê-la com outra também...tenho direito né?!?

E além do mais, hoje é um maldito e infernal doze de junho, e estive tocando músicas dolorosas, tristes e dançantes pra casaizinhos apaixonados. Agora é minha vez, porra!!! E tenho dito!!! Foda-se se levarei fora ou não, não to preocupado com isso, só quero me libertar dessas algemas. Quero ganhar ou perder sem engano, and life goes on!


Jesus & Mary Chain - ”Taste Of Cindy”

quarta-feira, maio 24, 2006

Dia 12 - "A conversa constragedora fatídica"

- Oi Alfredo!! (um sorriso amarelo)
- Oi Joana! (uma cara indescritivelmente patética)
- Tudo bem com você? (tentando mostrar uma felicidade em revê-lo)
- Tudo... e contigo? (olhando para o chão insistentemente)
- Bem, bem...conhece a Ana Maria? (voz trêmula)
- Não...prazer, eu sou o Alfredo, ex-namorado que a Joana deve ter te falado. (não conseguiu segurar o humor corrosivo)
- Prazer...ela fala muito sobre você, chego até a sentir ciúmes. (risadas forçadas de ambos os lados)
- Hum...é mesmo? (uma olhadela rápida em Joana)
- Sim, é verdade, ela tem uma profunda admiração....
- Ué, Alfredo, vai tocar hoje nessa festa? (ainda bem que interrompeu uma constrangedora conversa)
- Sim, o Renato me chamou faltando 43 do segundo tempo para repor o time desfalcado. (ela sentia saudades das alusões futebolísticas nas conversas dele)
- Ah...eu nem sabia...
- É, nem deu pra refazer a filipeta da festa com o meu nome, ainda bem que sou o primeiro a tocar e estarei vazando logo desse lugar. (tem mais um motivo pra ele não estar nessa festa).
- Ahn...tomara que você toque muito, adoro suas discotecagens. (e era verdade)
- Ah...nem sou. Estou nessa porque sou um músico frustrado. (era mentira)
- Ah...pára com isso!! Qual a sua seleção especial de hoje?
- Bom, como essa é uma data comemorativa de casais apaixonados, colocarei baladas e canções que têm a ver com esse sentimento tão nobre...mas há uma armadilha nisso tudo, as músicas podem embalar os corações, mas as letras falam de amores perdidos, corações partidos e algumas até de morte, mas não falem pra ninguém, isso só fica entre nós. (ele adorava sua eloqüência ríspida, explosiva e ácida)
- ... (o que falar depois disso?)
-... (ele não acredita mais em amor)
-... (não acredita e não faz a mínima questão em se apaixonar)
- Aceitam um cigarro? (ele acende o seu e dá uma longa baforada para espantar o nervosismo)
- Não...obrigado.
- Aceito. (Ana pega o Camel)

(silêncio constragedor)

- Bom...deixa eu ir lá pra dentro. (nervosismo aflorado)
- Ué...não vai esperar sua namorada? (Joana alfineta)
- Ai...se eu tivesse uma, você acha que eu estaria aqui? (Alfredo devolve)
- Ah...e aquelas alunas apaixonadinhas em você, onde estão? (Ana cutuca Joana de leve)
- Ih, elas devem vir devidamente acompanhadas de seus respectivos namoradinhos bestas, só pra me mostrarem o que eu perdi, lógico que terá uma ou outra menina ingênua e “loser” que nem eu só pra ver o professorzinho idiota que tocará canções “bonitas” para embalar os seus corações cheios de amor platônico. (até hoje ela tem ciúme, sabendo que Alfredo era o único professor da cidade que não “ficava” com alunas)
- Eu te admiro, sabia? (era verdade)
- Pois não devia...sabia? (porque ele ainda conversa com ela, depois de tanto tempo)
- Desculpa, eu não vou atravancar sua vida amorosa e sexual, pois nem namoramos mais.
- Desculpas aceitas, eu vou lá pra dentro, tomar litros de cerveja, fumar duas carteiras de cigarro e tocar para casais bobocas, espero que aproveitem a festa. (ele sempre se machuca com as palavras vazias de Joana, até hoje)

(continua...)

Pixies - "Winterlong"

quarta-feira, maio 17, 2006

Dia 12 (primeira parte)

- E aí Alfredão, beleza?
- Tudo indo cara, e contigo?
- Na boa...pensou a respeito da proposta?
- Sim, eu aceito!
- Okay então, sábado então no casarão!!
- Certo, estarei lá!

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Onde eu estava com a cabeça, quando resolvi aceitar esse trampo de discotecar numa maldita festa de Dia dos Namorados? Só um cara fudido e com falta de grana iria sair sozinho num 12 de junho, e ainda mais para tocar músiquinhas bestas para casaizinhos apaixonados. Porra, duzentas pilas por uma noite de baladas água-com-açúcar ta de bom tamanho, estou precisando de dinheiro mesmo, além do mais, eu sou um cara bonzinho que só se fode, mas sempre ajuda os amigos e o Renato é meu amigo, ele devia estar desesperado por um DJ e todos devem ter recusado por um motivo muito simples: as namoradas deles não trocariam de jeito nenhum o prazer pelo trabalho. E quem foi que sobrou nessa estória toda?!?

Bom, pelo menos estou com minha caixinha inseparável, meus cds que amo de paixão e meu fone e ouvido, pois assim só ouço a música e nem presto atenção nas aberrações que verei mais tarde. Ainda bem que não ouvirei barulhos e estalos cheios de língua, lábios e saliva...só de pensar nisso já me dá arrepios. Ai ai, porque Joana foi terminar comigo? Será que sou tão diferente dela? Ou será que ela queria alguém diferente de mim? Será que um ano de namoro sofrido foi perca de tempo pra mim e pra ela? Será que não fui bom o bastante, mesmo me esforçando para ser o melhor, apesar de todas minhas dificuldades e obstáculos? Acho que nunca entenderei esse fim de namoro, e mesmo após um mês sem Joana, sinto falta dela....e muito. Pronto, cheguei no casarão. Ainda vazio, mas também são oito horas da noite. I need a cigarrette...

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- Boa noite senhor!
- Boa noite, eu sou Alfredo, um dos que irão discotecar na festa!
- Ahan, deixa eu olhar na lista, deixa eu ver sua identidade?
- Ok, aqui!
- Hum........certo senhor Alfredo, pode entrar!
- Eu vou esperar um pouco aqui fora, porque está um pouco cedo, alguém da organização já chegou?
- Ainda não!
- Certo, quando o Renato ou a Amanda chegar, eu entro com eles!
- Ok, fique a vontade!

Que segurança gentil, nunca fui tratado tão educadamente na minha vida, acho que isso tem um dedo da Amanda, ela que sempre organiza festas e diz aos seguranças sempre tratarem bem as pessoas da festa dela. Agora é esperar, e dar uma de “social”, porque estou no meu momento “ermitão”, tomara, mas TOMARA MESMO que não encontre nenhum aluno meu e aquela pessoa que nem cito o nome. E nenhuma aluninha apaixonada pode aparecer, porque senão irei dar em cima e irei querer alguma coisa a mais do que simples beijinhos, e isso convenham, é deveras perigoso. E eu sei o jogo dessa gurias de 17 anos que se acham as “bam-bam-bam”, atiçam o professor escolhido, mas na hora do “vamo vê”, recuam. Bah, meninas assim, não passam de umas pivetes que se acham mulheres, só porque tem os seios desenvolvidos e podem usar pela primeira vez um decote. Porque alunas de 17 anos ficam atraídas por professores de História de 25 anos, com a barba grande e a fazer, e roupas desleixadas? Acho que é porque elas acham que eu possa ser um novo Marcelo Camelo, aliás, já me disseram tanto isso, que estou até pensando em tirar essa barba ridícula.

Eu não desprezo as alunas, mas tem algumas que realmente me enchem a paciência, com todos aqueles jogos de sedução, e eu bem sei como termina. E não quero esquecer Joana com uma garota qualquer, estaria enganando ela e a mim. Por falar no diabo, olha só quem vem vindo lá, e com um namorado a tiracolo....aliás, UMA NAMORADA a tiracolo. Eu queria uma cama agora mesmo, não me sinto bem, minhas pernas fraquejaram agora...a beer and a cigarrette, please!!!!!!

(continua)

Snow Patrol - "Make This Go On Forever"

sexta-feira, maio 05, 2006

A Filha do Vento pt. II (Blower's Daughter's Damien Rice) Tradução

Isto tem que morrer
Isto tem que parar
Isto tem que diminuir
Alguém diferente no topo

Você pode me manter preso
É mais fácil me provocar
Mas você não pode fazer as coisas
tão bem quanto ela

E ela pode chorar como um bebê
E ela pode me levar a loucura
Porque ultimamente tenho estado só

Então porque você teve de mentir
Eu aguento, sou seu apoio
O travesseiro de seu sono
Tão mais fácil de se ter

E então você pensa estar segura
Ao que você cai de joelhos
Vivendo no seu mundo
Ainda se esquecendo da brisa

E ela pode se erguer
se eu te desmerecer
E ela pode sabiamente
por os pés no chão
Porque ultimamente tenho estado excitado

Então porque ela somente me teria

Isto tem que morrer
Isto tem que parar
Isto tem que diminuir
Alguém diferente no topo

quinta-feira, maio 04, 2006

Eu não queria ser assim

Tenho inveja de quem consegue amar
que largam tudo para ter outra vida
que se apegam violentamente e não largam nunca
que não conseguem viver sozinhos
que são dependentes

Tenho inveja de quem demonstra
o lado sentimental
o lado afetivo
o lado emocional
publicamente
e não tem vergonha de chorar

Um nó infinito na minha garganta
me impede de soltar as lágrimas

Eu necessito de ver um filme
ou ouvir uma música
para me explodir em prantos

Eu construi uma barreira
para não me aproximar das pessoas

Eu quero detruir a parede
para me apegar
para me emocionar
para sentir saudade
para eu me sentir mais humano


Neste momento
Damien Rice - "The Professor"