quarta-feira, maio 24, 2006

Dia 12 - "A conversa constragedora fatídica"

- Oi Alfredo!! (um sorriso amarelo)
- Oi Joana! (uma cara indescritivelmente patética)
- Tudo bem com você? (tentando mostrar uma felicidade em revê-lo)
- Tudo... e contigo? (olhando para o chão insistentemente)
- Bem, bem...conhece a Ana Maria? (voz trêmula)
- Não...prazer, eu sou o Alfredo, ex-namorado que a Joana deve ter te falado. (não conseguiu segurar o humor corrosivo)
- Prazer...ela fala muito sobre você, chego até a sentir ciúmes. (risadas forçadas de ambos os lados)
- Hum...é mesmo? (uma olhadela rápida em Joana)
- Sim, é verdade, ela tem uma profunda admiração....
- Ué, Alfredo, vai tocar hoje nessa festa? (ainda bem que interrompeu uma constrangedora conversa)
- Sim, o Renato me chamou faltando 43 do segundo tempo para repor o time desfalcado. (ela sentia saudades das alusões futebolísticas nas conversas dele)
- Ah...eu nem sabia...
- É, nem deu pra refazer a filipeta da festa com o meu nome, ainda bem que sou o primeiro a tocar e estarei vazando logo desse lugar. (tem mais um motivo pra ele não estar nessa festa).
- Ahn...tomara que você toque muito, adoro suas discotecagens. (e era verdade)
- Ah...nem sou. Estou nessa porque sou um músico frustrado. (era mentira)
- Ah...pára com isso!! Qual a sua seleção especial de hoje?
- Bom, como essa é uma data comemorativa de casais apaixonados, colocarei baladas e canções que têm a ver com esse sentimento tão nobre...mas há uma armadilha nisso tudo, as músicas podem embalar os corações, mas as letras falam de amores perdidos, corações partidos e algumas até de morte, mas não falem pra ninguém, isso só fica entre nós. (ele adorava sua eloqüência ríspida, explosiva e ácida)
- ... (o que falar depois disso?)
-... (ele não acredita mais em amor)
-... (não acredita e não faz a mínima questão em se apaixonar)
- Aceitam um cigarro? (ele acende o seu e dá uma longa baforada para espantar o nervosismo)
- Não...obrigado.
- Aceito. (Ana pega o Camel)

(silêncio constragedor)

- Bom...deixa eu ir lá pra dentro. (nervosismo aflorado)
- Ué...não vai esperar sua namorada? (Joana alfineta)
- Ai...se eu tivesse uma, você acha que eu estaria aqui? (Alfredo devolve)
- Ah...e aquelas alunas apaixonadinhas em você, onde estão? (Ana cutuca Joana de leve)
- Ih, elas devem vir devidamente acompanhadas de seus respectivos namoradinhos bestas, só pra me mostrarem o que eu perdi, lógico que terá uma ou outra menina ingênua e “loser” que nem eu só pra ver o professorzinho idiota que tocará canções “bonitas” para embalar os seus corações cheios de amor platônico. (até hoje ela tem ciúme, sabendo que Alfredo era o único professor da cidade que não “ficava” com alunas)
- Eu te admiro, sabia? (era verdade)
- Pois não devia...sabia? (porque ele ainda conversa com ela, depois de tanto tempo)
- Desculpa, eu não vou atravancar sua vida amorosa e sexual, pois nem namoramos mais.
- Desculpas aceitas, eu vou lá pra dentro, tomar litros de cerveja, fumar duas carteiras de cigarro e tocar para casais bobocas, espero que aproveitem a festa. (ele sempre se machuca com as palavras vazias de Joana, até hoje)

(continua...)

Pixies - "Winterlong"

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

a acidez rolou solta nessa conversação...

eu senti em mim... mas teve uma leve veia cômica nisso aí.

qua. mai. 24, 05:07:00 PM BRT  
Anonymous Anônimo said...

hahahahahahahahaha
te amo.

seg. mai. 29, 09:56:00 PM BRT  

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