terça-feira, maio 30, 2006

Dia 12 - terceira e última parte

O que você sente quando toca uma música que gosta? O que passa na sua cabeça quando toca uma música que “foi feita para você”? O que você acha de tocar, seja num simples violão, seja numa pick-up, uma canção que não é sua? E se você tocar essa mesma canção para outras pessoas, você se acha um usurpador, um intrometido? Eu prefiro tocar músicas de outras pessoas, do que composições próprias, porque minhas músicas são idiotas, por mais que eu me esforce. Eu terminei minha última banda porque não gostava do que escrevia e cantava, e agora sou um reles professor de segundo grau (ensino médio...que seja) que brinca de discotecar músicas dos outros, e que ganha fazendo isso. É...sou um canalha mesmo.

A festa até que não está vazia, mas também não está cheia, digamos que esteja agradável. A minha carteira de Camel está quase acabando, e acabo de tomar a terceira long-neck na noite, porque não dá pra engolir a seco a cena e a conversa que presenciei com Joana e sua “namorada” horas atrás. Ainda bem que música me deixa relaxado, apenas relaxado, porque minha cabeça tem mil pensamentos e tenta processar o que meu olho consegue enxergar naquela sala escura, e isso me deixa revoltado e incomodado. O que me incomoda mais é que tem uma garota ao meu lado, fazendo danças lascívias com as amigas dela, e de vez em quando olha pro meu rumo dizendo “toca mais uma pra mim...só pra mim”. Não sei se fico alegre, triste, com raiva...sei lá, porque eu sei o jogo dessas gurias, atiçam os pobres homens mortais, nos fazem de gato e sapato e pra terminar a diversão ignoram como se fôssemos fantasmas ou zumbis, sedentos de paixão (ou tesão). Isso às divertem. Ela tem um profundo decote, eu só queria deitar meu rosto naquele colo abismal e dormir pra sempre. Eu não mereço.

Hoje eu não to nem aí se as pessoas apaixonadas prestam atenção ou gostam das músicas nos alto-falantes. Não to nem aí se reclamam, ou se pedem pra mim tocar “aquela canção”, eu fiz essa seleção somente pra mim. Estou na minha sala de estar apreciando as dores cortantes de vários artistas, e deixei alguns intrusos adentrarem e dançarem na minha frente, e de olhos fechados, nem percebo...só quero ficar em paz.

“Love Burns” no meu headphone (não é fone-de-ouvido) e na pista. Black Rebel Motorcycle Club sempre arrepiou meu coração, e eles não são mera cópia de Jesus & Mary Chain, eles sabem usar bem as influências que têm. Os compositores são sarcásticos, travestem e deturpam o sentido das músicas, uma mensagem subliminar feita de acordes de guitarra, eles escondem numa música alegre e dançante todas as mazelas, e as pessoas que ouvem nem percebem. Eles riem por dentro e eu também...magnífico.

A garota ainda dança “para mim”. Eu já estou vendo até a cena: Primeiro vou arrumar minhas coisas, colocar tudo na minha mochila, depois desço do púlpito do DJ, olhando fixamente pra ela, cruzo a pista de dança, pego mais uma long-neck, abro a garrafa, acendo um cigarro, dou um golão na cerveja e um trago bem forte no Camel. Daí vou-me ao encontro dela, começo a dançar perto e cochicho no seu ouvido...toda a lenga-lenga de “Oi, qual é o seu nome” e “tá gostando da festa”, ela me elogia, joga charme. a gente conversa, vamos para um cantinho pro momento crucial de ganhar um beijo ou um “fora”.

É...eu reclamo, mas no final tudo acaba da mesma maneira. É como se fosse um ciclo vicioso que não conseguimos nos livrar. Tentar esquecer um coração partido com outra. Não é justo, mas nada nessa vida é justo. É momentâneo, instantâneo, rápido, mas é o que necessito agora. Dar um pontapé no passado e recomeçar do zero. Se Joana fez isso, e da maneira mais incomum, porque eu não? Ela está tentando me esquecer com outra, vou tentar esquecê-la com outra também...tenho direito né?!?

E além do mais, hoje é um maldito e infernal doze de junho, e estive tocando músicas dolorosas, tristes e dançantes pra casaizinhos apaixonados. Agora é minha vez, porra!!! E tenho dito!!! Foda-se se levarei fora ou não, não to preocupado com isso, só quero me libertar dessas algemas. Quero ganhar ou perder sem engano, and life goes on!


Jesus & Mary Chain - ”Taste Of Cindy”

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Isso aí... ele tem mais é que tentar. De vez em quando a gente tem direito de largar um foda-se, então ele tem mais é que tentar sem se importar..quem sabe até não consegue?

Porra..B.R.M.C? Gostei da discotecagem! =D

ter. mai. 30, 09:33:00 PM BRT  

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